Desafios das mulheres e mães em ​home-office

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São notórias as mudanças provocadas pela pandemia no COVID-19 no nosso dia a dia, tanto em âmbito profissional quanto em âmbito pessoal. Uma dessas mudanças, inclusive sendo o ponto central deste texto, diz respeito a instituição de políticas de home-office ​ pelas empresas e os desafios desta nova rotina sob a ótica feminina.

Ainda que as dificuldades e desafios sejam, em parte, comuns tanto para o homem quanto para mulher, é fato que há uma grande diferença quando colocado no contexto da mulher. Segundo o IBGE, em 2018 (antes da pandemia) as ​mulheres já dedicavam quase o dobro do tempo dos homens em tarefas domésticas e, apesar dessa diferença diminuir um pouco a depender do grau de escolaridade do homem, sabemos que são raras as exceções onde há paridade na divisão dessas tarefas.

Neste contexto, soma-se o fato de a mulher ainda ser a principal responsável pelos cuidados com filhos, dos quais estão impossibilitados de frequentar escolas ou creches e, de maneira geral, acabam demandando maior atenção das mães quando estão em sua presença. Não podemos esquecer também que os impactos para as mulheres chefes de família são ainda maiores.

Estima-se que, em 2015, 15,3% das famílias eram chefiadas por mães solo ou viúvas, das quais não tem a companhia de um parceiro ou parceira para dividir as tarefas.

Sendo assim, torna-se evidente que o esforço despendido pela mulher para manter o foco e atenção em seu trabalho é maior, se comparado ao esforço demandado do homem – salvo raríssimas exceções. Isso tudo, colocado em um contexto onde as mulheres já sofrem discriminação e diferença salarial em seu ambiente de trabalho, realça a posição de desvantagem que as mesmas se encontram pelo simples fato de ser mulher, as quais tem que produzir com a mesma qualidade e celeridade que homens em cargos semelhantes mesmo com todas as adversidades citadas e agravadas pelo home-office.

Ocorre que, apesar de graves os pontos levantados, a falta de tempo para dedicar-se exclusivamente ao trabalho não constitui o único desafio encontrado pela mulher e mãe em regime de home-office. Podemos extrair da pesquisa do IBGE citada acima que,  mesmo empregadas, mulheres dedicam 8 horas a mais do que homens nos afazeres da casa. Nesse contexto, o cansaço e a saúde tanto física quanto mental são pontos de atenção quando falamos nas consequências das dificuldades encontradas pela desigualdade de gênero nos ambientes profissionais e domiciliares, que acabam impactando a produtividade e colocando mulheres na mira das ondas de demissões.

Não obstante, já existem estudos publicados em revistas científicas de renome que associam a sobrecarga doméstica à transtornos mentais como ansiedade, humor depressivo, insônia, anorexia nervosa e sintomas psicofisiológicos se adicionados a um contexto de frustração , preocupação e autocobrança profissional.

Em última instância, o tempo reduzido para se dedicar ao trabalho remoto em decorrência das tarefas domésticas e cuidados com os filhos, somados ao desenvolvimento de um quadro de ansiedade e/ou depressão, por exemplo, torna evidente que a qualidade de vida de muitas mulheres vem sendo prejudicado pela diferença de gênero agravada pela pandemia, bem como colocando-as em uma situação de maior exposição à demissões por baixa produtividade e, de maneira geral, criando uma bola de neve na diferença de gênero em ambiente de trabalho .

Cumpre ainda mencionar que a diferença de gênero evidenciada acima não são os únicos fatores que prejudicam as mulheres em um ambiente de trabalho remoto.

A violência contra as mulheres também é algo que cresceu significativamente  durante o período de isolamento social, chegando a 40% mais denúncias no mês de abril se comparado ao mesmo mês em 2019.

A ONU recentemente reconheceu a situação de desigualdade das mulheres durante a pandemia e, inclusive, publicou uma cartilha sobre os direitos das mulheres em meio à crise. Com vistas a alertar as autoridades sobre o impacto da pandemia e isolamento social na vida das mulheres, vemos que os fatos aqui mencionados não se limitam a um fato isolado e regional, mas sim a uma realidade que está sendo vivenciada pela grande maioria das mulheres e mães desde a instituição das políticas de isolamento social, como o home-office.

Apesar de todo o exposto, existem medidas legais para proteger a mulher contra as abusividades cometidas, tanto em âmbito pessoal (como violência doméstica e/ou discriminação), como também profissional (demissões, assédio moral, etc.).

 

 

 

Souza Ferreira Advogados

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